Campo Grande, 02 de julho de 2015
Olá, Fulana. Faz muito tempo que a gente não se fala, não é?
Enquanto arrumava o meu quarto eu encontrei, no fundo de uma
gaveta, as cartas que você me enviou. E passei um bom tempo lendo. Todas elas.
As mais antigas são de 2001, ou seja, mais de 14 anos atrás.
Enquanto eu as lia, por um momento senti como se estivéssemos naquela época,
quando eu ia na sua casa e ficávamos conversando o dia inteiro, enquanto
comíamos as tortas que você e sua irmã faziam. Faz tanto tempo, que nas cartas
você ainda me perguntava se “aquele filme O Senhor dos Anéis que estreou no
cinema” valia a pena ser assistido, e se eu podia emprestar o mais novo livro
do Harry Potter (cujo nome você escrevia errado 90% das vezes).
Fico imaginando se aquele rapaz por quem você se dizia
apaixonada é o mesmo homem com quem você se casou. Se a decisão de desistir de
prestar o vestibular para aquele curso e seguir a sua verdadeira paixão te
deixou feliz. Se aqueles problemas que te chateavam tanto foram superados.
Você escreveu que uma carta é a melhor lembrança que a gente
pode ter de um amigo. Você tinha razão. As suas cartas me trazem lembranças não
somente suas, mas também de mim, do amigo que eu era, e de como me importava
com você. E também de como abandonei nossa amizade. Mesmo mudando para outro
estado, me pergunto por que não tomei a simples decisão de te escrever de vez
em quando, contando como era a vida longe daqui e pedindo notícias suas. Ao
invés disso, escolhi esquecer de você.
Me desculpe pela distância. Me desculpe pelo silêncio. Me
desculpe por não ter sido o amigo que você merecia.
Me desculpe por não ter nem mesmo a coragem de te enviar esta
carta.
Abraços eternos,
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