- Não, não é meu! Não sei como isso foi parar aí, vocês têm
que acreditar em mim!
Leandro estava acostumado a ouvir o mesmo discurso, seguido
do choro desesperado, que sempre vinha daqueles presos em flagrante. Como com
todos os outros, a vergonha estampada no rosto daquele indivíduo era evidente,
principalmente depois de ser obrigado a encarar as provas de seu crime.
O jovem deve ter achado que conseguiria esconder seus vícios
atrás das grossas cortinas de seu quarto, mas cometeu o erro de confidenciar o
segredo a um de seus amigos, que sendo mais consciente de suas
responsabilidades sociais, acabou realizando a denúncia.
Em seu trabalho de investigador de polícia, Leandro viu
vários jovens renderem-se à tentação daquele vício. A promessa de uma nova
forma de enxergar o mundo e “viajar”, como o ato era chamado pelos usuários,
era tentadora demais para alguns. Mas Leandro não entendia o que levava as
pessoas a fugir da realidade em busca de uma ilusão passageira. Principalmente
depois que o governo decidiu aplicar a política de tolerância zero com relação
àquele desprezível costume, era difícil entender o motivo de existir pessoas
que se arriscavam para saciar aquela incompreensível necessidade.
Enquanto seus colegas policiais arrastavam o inconsolável
jovem, agora já algemado, Leandro olhou rapidamente o objeto pelo qual ele
passaria longos anos em reclusão e sob uma rigorosa reeducação: um grosso livro
cuja capa exibia o nome “O Senhor dos Anéis”.
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A introdução
que seria de um livro que eu escreveria, antes de um amigo me dizer que já
existiam livros e filmes com a mesma ideia.
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